Há alguns dias, enquanto estávamos apurando a notícia sobre fazendeiros chilenos que lutavam por suas terras, entramos em contato com uma fonte para solicitar uma entrevista. A nossa fonte logo perguntou onde essa história apareceria.
“Nós temos um podcast independente”, explicamos. “Ele é chamado de ‘Las Raras’, e fazemos parte do programa de criação do Google Podcasts.”
Em seguida, silêncio. Por muitos segundos. Nós sabíamos o que tínhamos que perguntar:
“Você sabe o que é um podcast?”
Ela não sabia.
Essa é uma situação muito comum para nós. Não só no Chile, onde vivemos, mas também na América Latina, muitas pessoas nem sequer ouviram a palavra podcast, muito menos ouviram um.
Quando chegamos a Boston para o programa de criação do Google Podcast, vivenciamos totalmente o oposto daquela situação em Santiago. Na PRX Podcast Garage, conhecemos profissionais incríveis e outras cinco equipes participantes do programa. Foi um sonho falar sobre podcasts durante 12 horas por dia com um grupo tão diversificado de pessoas que compartilham a nossa paixão.
Com as outras equipes, aprendemos quantos objetivos diferentes um podcast pode ter: aumentar a conscientização sobre o movimento LGBTQ+ em um lugar onde homossexualidade é ilegal (“AfroQueer”); contar histórias da diáspora filipina (“Long Distance”); refletir sobre os padrões modernos de beleza (“The Colored Girl Beautiful”); apresentar às crianças a história de Porto Rico (“Timestorm”); ou ainda falar sobre a cultura do carro e a violência nas estradas (“Who Taught You How to Drive?!”)
Criamos nosso podcast, “Las Raras”, em 2015, inspirado (como muitos) na primeira temporada de “Serial”. Como um jornalista e uma engenheira de som, ouvimos imediatamente o que os podcasts poderiam fazer. Trata-se de um meio perfeito para contar histórias de pessoas que são frequentemente negligenciadas e que desafiam normas e o status quo.
Em outras palavras, os podcasts nos permitem contar histórias pelas quais nos sentimos apaixonados e nem sempre são ouvidas no Chile. Logo de cara, adoramos a inovação e a abertura oferecidas por um podcast. Ao mesmo tempo, isso também foi assustador. Tivemos de aprender uma nova maneira de entrevistar e estruturar nossas mensagens, e como usar o som sem recursos visuais.
Era algo também financeiramente arriscado. As nossas duas primeiras temporadas foram autofinanciadas. Por sorte, para a terceira temporada, conseguimos um apoio da International Women’s Media Foundation. Ajudou, mas ainda estávamos nos sentindo um pouco sozinhos e encarando um caminho incerto pela frente. Quando ouvimos pela primeira vez sobre o programa de criadores do Google Podcasts, sabíamos que era perfeito para nós. O objetivo era aumentar a diversidade de vozes na indústria de podcast.
Colocamos nossos corações e almas na inscrição, deixando claro que estávamos em um momento crítico para o nosso podcast. Dois dias antes do Natal, recebemos um e-mail confirmando que havíamos sido escolhidos. Levamos algumas semanas para realmente acreditar que aquilo estava acontecendo. É uma honra, mas também uma grande responsabilidade.
Sabemos que as histórias contadas por nós e o apoio do programa de criação do Google Podcasts vai permitir levar o “Las Raras” para outro nível. Nosso objetivo no programa é encontrar uma maneira de ser bem sucedido a longo prazo. Com o suporte do Google, do PRX e de nossos mentores e colegas podcasters, estamos focando nossa atenção em entender melhor as necessidades de nossa audiência e desenvolver um modelo de negócios sustentável para o “Las Raras”. O programa oferece exatamente isso: o treinamento para melhorar a qualidade das histórias que adoramos contar e daquelas que sabemos que o nosso público quer ouvir.
Martin Cruz e Catalina May, criadores do podcast Las Raras