Nos seis meses que passei na Estação Espacial Internacional, foi difícil encontrar palavras ou tirar uma foto que transmitisse com precisão o sentimento de estar no espaço. Ao trabalhar com o Google na minha última missão, capturei imagens do Street View para mostrar como é a ISS por dentro e compartilhar como é olhar para a Terra do espaço sideral.
Há 16 anos, os astronautas trabalham e vivem na ISS, uma estrutura composta por 15 módulos conectados que flutuam a mais de 400 km acima da Terra. A ISS funciona como base para a exploração espacial -- possíveis futuras missões na Lua, em Marte e asteróides -- e nos dá uma perspectiva única da própria Terra. Podemos coletar dados sobre os oceanos, a atmosfera e a superfície terrestre. Podemos fazer experimentos e estudos que não seríamos capazes de fazer da Terra, como monitorar como o
corpo humano reage à microgravidade, resolver os mistérios do
sistema imunológico, estudar
ciclones, para alertar populações e governos quando uma tempestade está se aproximando, ou monitorar o lixo marinho -- uma quantidade cada vez maior de resíduos encontrados em nossos oceanos.
Minha missão teve algumas “primeiras vezes”. Ela foi liderada por
Peggy Whitson, que, aos 56 anos, foi a mulher mais velha a ir ao espaço e também a primeira mulher na história a comandar duas expedições. Além disso, nessa missão, foi a primeira vez que as imagens do Street View foram capturadas fora do planeta Terra -- e as primeiras anotações (
pequenas notas úteis que aparecem ao explorar a ISS) foram adicionadas às imagens. Essas notas oferecem informações adicionais ou fatos divertidos sobre como nos mantemos fisicamente em forma, que tipo de comida comemos e onde fazemos experiências científicas.
Por conta das restrições muito específicas de quem vive e trabalha no espaço, não foi possível coletar as imagens do Street View com os métodos usuais do Google. Em vez disso, a equipe da Street View trabalhou com a NASA no Johnson Space Center, em Houston, no Texas, e no Marshall Space Flight Center, em Huntsville, no Alabama, para projetar um método sem gravidade capaz de capturar as imagens usando câmeras DSLR e equipamentos já disponíveis na ISS. Com isso, eu consegui coletar as fotos do espaço, que foram então enviadas à Terra e, depois, combinadas para criar imagens panorâmicas de 360 graus da ISS.
Tivemos de resolver muitos problemas antes de reunir as imagens finais que você verá no Street View a partir de hoje. A ISS tem equipamentos técnicos em todas as superfícies, com muitos cabos e uma disposição complicada, com os módulos disparando em todas as direções -- esquerda, direita, para cima, para baixo. A rotina é bem corrida e programada, com seis membros da tripulação com atividades de pesquisa e manutenção 12 horas por dia. Há muitos obstáculos lá em cima e tivemos um tempo limitado para capturar as imagens, por isso precisávamos ter certeza de que nossa abordagem funcionaria. Ah, sem contar toda essa história de gravidade zero.
Joint Airlock (Quest) - Esta área contém trajes espaciais também conhecidos como Unidades de Mobilidade Extraveicular
Hoje, você pode fazer o seu próprio passeio pelo Street View da ISS, um lugar que poucos de nós tivemos a sorte de pisar (ou flutuar). Nada disso teria sido possível sem o trabalho da equipe na Terra, meus colegas na ISS e os países que se juntaram para nos enviar ao espaço. Olhar para a Terra de cima me fez pensar sobre o meu próprio mundo de um jeito um pouco diferente, e espero que a ISS no Street View mude sua visão do mundo também.
Postado por Thomas Pesquet, astronauta da Agência Espacial Européia (ESA)