Foi necessário mais do que um vilarejo: foi necessário o mundo todo – pessoas de todas as raças, países e religiões – para erradicar a varíola. Os casos finais de ocorrência natural de "Varíola maior" em Bangladesh - em 1978, e de "Varíola menor" na Somália - em 1977, marcaram o fim de uma era de sofrimento e mortes precoces que vinham ocorrendo desde as pragas bíblicas e do faraó Ramsés, que também morreu dessa mesma doença. Desde então continuamos a enfrentar doenças pandêmicas infindáveis – peste negra, cólera, gripe aviática, SARS, HIV/AIDS e uma enorme nova geração de doenças zoonóticas – doenças que freqüentemente, por causa de mudanças na população ou no clima, passam de animais para os humanos. Não podemos ter certeza de onde a próxima varíola surgirá, mas podemos ter certeza de que será necessário um esforço muito maior do que uma pessoa ou uma companhia para derrotá-la.

Hoje, existem verdadeiros heróis trabalhando para riscar mais duas doenças da lista. A Organização Mundial da Saúde liderou o ataque à altamente infecciosa doença da pólio. Junto com a UNICEF, dezenas de ONGs, milhares de trabalhadores da área da saúde, e membros do Rotary International, voluntários - desde mães até líderes religiosos - se juntaram à luta e contiveram a pólio. Agora, apenas centenas, ao invés de milhões, de crianças ficam paralizadas anualmente. Mas não podemos considerar que o problema está resolvido até erradicarmos o último caso, no último país. O Carter Center também tem realizado um feito tremendo ao liderar o esforço para reduzir os casos de Verme da Guiné de milhões para dezenas de milhares. Mas assim como foram necessários 150 mil trabalhadores da área da saúde – os heróis desconhecidos do mundo – para fazer um bilhão de visitas domésticas na Índia, procurando por casos ocultos de varíola, também será necessária uma colaboração em escala global para rastrear e eliminar a próxima doença pandêmica.

Não existe um prêmio Nobel para “Impedir uma Doença Pandêmica" e a parte mais difícil do trabalho neste campo é imaginar o inimaginável. Qual será a próxima SARS, o próximo ebola, a próxima gripe aviática H5N1? Os epidemiologistas tentam "contabilizar" os números de permutações e combinações que podem dar origem à mais nova ameaça às nossas vidas. Tudo indica que um micróbio capaz de assolar o globo surgirá nos próximos dez ou vinte anos, e tudo indica que será passado para os humanos vindo de um hospedeiro animal (como foi com a SARS, a gripe espanhola e o HIV/AIDS). Precisamos de novas maneiras de encontrar essas ameaças emergentes ainda no princípio do processo, antes que milhares sejam infectados e que a epidemia saia de controle.

A iniciativa Prever e Prevenir da Google.org está trabalhando com parceiros para usar tecnologia digital, genômica e de TI para identificar "pontos quentes" de ameaças emergentes e fornecer avisos antecipados antes que elas se tornem uma crise global. Quando se está combatendo uma doença pandêmica, a detecção e resposta precoces podem significar a diferença entre dezenas e centenas de milhões de infectados. Que melhor presente de aniversário poderíamos oferecer ao mundo em nosso 20° ano, do que dizer que nos juntamos aos esforços em um movimento global e ajudamos a prevenir a próxima varíola?